PHDA na adolescência

Entre o impulso e a identidade

A adolescência é uma fase marcante, em que o cérebro ainda está a aprender a gerir o impulso, o tempo, as emoções e a identidade. Nesta etapa, a PHDA pode ganhar novas formas e desafios.

A PHDA e a construção da identidade

A adolescência é um tempo de descoberta: o corpo muda, as relações transformam-se e cresce o desejo de independência.

Para quem tem PHDA, esta transição é vivida com uma intensidade especial — uma
verdadeira montanha-russa emocional.

Muitos jovens com PHDA descrevem sentir-se:

  • “Demais” — demasiado agitados, emotivos, distraídos, diretos.
  • “De menos” — sem energia, sem foco, sem motivação.

Esta alternância confunde adultos e desgasta o próprio jovem, que frequentemente sente que “sabe o que devia fazer, mas não consegue fazer o que sabe”.

A aceitação pelos pares torna-se essencial. A rejeição social pode deixar marcas
duradouras.

Alguns adolescentes esforçam-se por disfarçar as dificuldades; outros reagem com desafio, humor ou ironia, como forma de defesa.

Quando o diagnóstico é reconhecido e compreendido, ajuda a construir uma identidade mais positiva — perceber que não é defeito, é diferença, e que aprender a geri-la faz parte do caminho.

Desafios comuns na adolescência:

A PHDA não é apenas sobre distração ou movimento.
Na adolescência, manifesta-se nas decisões, relacionamentos, hábitos e formas de
lidar com o mundo.

Desregulação emocional

As emoções vêm com força total — entusiasmo, frustração, irritação, tristeza, euforia — e mudam rapidamente.

Uma crítica pode parecer um ataque pessoal; um elogio, uma explosão de energia.
Muitos adolescentes com PHDA descrevem a sensação de “viver tudo no máximo” —
uma fonte de vitalidade, mas também de exaustão.

Impulsividade e comportamentos de risco

O cérebro adolescente já é naturalmente orientado para o prazer imediato; com PHDA, esta tendência pode ser amplificada.

É comum:

  • conduzir de forma arriscada;
  • envolver-se em relações sexuais sem proteção;
  • consumir álcool, nicotina ou cannabis precocemente;
  • gastar dinheiro por impulso;
  • procurar sensações fortes (velocidade, desafios online, situações limite).

Nem sempre estes comportamentos nascem da rebeldia.

Muitas vezes são tentativas de autorregulação — uma forma de acalmar a mente ou
aliviar o desconforto interno — ou simplesmente fruto da dificuldade em refletir nas
consequências a longo prazo antes de gerir.

Sem apoio, o risco de destes comportamentos de risco aumenta.

Tecnologia, jogos e redes sociais.

A PHDA está entre as condições mais associadas ao uso excessivo de videojogos,
frequentemente em interação com ansiedade, depressão e dificuldades de regulação emocional.

Os jogos e as redes sociais oferecem recompensa imediata, estímulo constante e
sensação de competência — exatamente aquilo que o cérebro com PHDA procura.

Mais do que falta de disciplina, trata-se de um ciclo neurobiológico: o sistema de
recompensa e dopamina ativa-se repetidamente, reforçando o comportamento.

Para muitos jovens, este espaço digital é uma fonte de prazer, pertença e controlo, o que torna difícil perceber porque algo que “faz sentir bem” pode também ser tão prejudicial.

Reconhecer esta relação — e responder-lhe com empatia, estratégias adequadas e
apoio especializado — é fundamental.

Bullying, exclusão e procura de pertença

Jovens com PHDA têm maior probabilidade de sofrer ou praticar bullying.

A impulsividade e a baixa tolerância à frustração podem gerar conflitos; por outro lado, muitos tornam-se alvo de rejeição pela sua diferença ser mal interpretada.

É essencial criar espaços seguros e compreensivos, onde estes jovens se sintam
aceites e valorizados.

Escola, motivação e autoconceito

Com o ensino secundário chegam mais exigências e autonomia.

O adolescente pode:

  • passar mais tempo a tentar estudar do que a estudar;
  • esquecer prazos;
  • ficar bloqueado ao iniciar tarefas longas;
  • procrastinar até ao limite;
  • sentir vergonha por “saber e não conseguir”;
  • duvidar do seu futuro profissional.

Infelizmente, grande parte dos contextos educativos não estão preparados para responder às necessidades destes jovens. Estas experiências repetidas alimentam um sentimento de incapacidade.

Com compreensão e estratégias realistas — dividir tarefas, usar lembretes, pedir ajuda — é possível mudar o percurso.

Saúde mental e comorbilidades

A relação entre PHDA e saúde mental é complexa e tem grande impacto nesta fase.

Uma meta-análise recente com quase 40 mil jovens mostrou que a maioria das
perturbações psiquiátricas ocorre com maior prevalência em adolescentes com PHDA do que na população geral.

Entre as mais comuns estão:

  • Perturbação Desafiante de Oposição
  • Perturbações do Comportamento
  • Perturbações de Ansiedade

Cerca de dois terços dos jovens com PHDA têm pelo menos uma perturbação
comórbida, o que agrava o impacto e dificulta o prognóstico.

Por isso, é essencial reconhecer cedo sinais de sofrimento psicológico — tristeza
persistente, irritabilidade, isolamento, comportamentos de risco, apatia ou perda de
interesse — e procurar apoio profissional.

Fatores de proteção e estratégias úteis:

O que mais ajuda um adolescente com PHDA não é “corrigi-lo”, mas compreendê-lo e acompanhá-lo de forma colaborativa.

Fatores de proteção importantes:

Relações de confiança — poder falhar sem ser julgado.

  • Adultos de referência que escutam e valorizam.
  • Acompanhamento psicológico focado em autorregulação e autoestima.
  • Educação emocional e sexual adaptada.
  • Rotinas consistentes, com flexibilidade e autonomia.
  • Promoção de adaptações razoáveis e contextos neuroinclusivos.
  • Grupos de pares e espaços de autoadvocacia.
  • Atividades de interesse pessoal — o entusiasmo é o melhor motor.

Potencialidades e futuro

Adolescentes com PHDA trazem energia, criatividade, humor e autenticidade —
qualidades que, quando reconhecidas, tornam-se forças transformadoras.

Com o apoio certo, podem canalizar o impulso em coragem, a sensibilidade em empatia e a curiosidade em inovação.

A autoadvocacia — falar em primeira pessoa, participar nas decisões e reivindicar espaços seguros — é uma das ferramentas mais poderosas para transformar desafios em oportunidades.

A PHDA não desaparece na adolescência, mas a forma como o mundo a acolhe pode mudar tudo.