O que é a PHDA

Perturbação de Hiperatividade Défice de Atenção (PHDA)

A Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção (PHDA) é uma condição do neurodesenvolvimento que começa na infância e persiste frequentemente ao longo da vida. Envolve padrões persistentes de desregulação da atenção, hiperatividade e/ou impulsividade, que não se explicam pelo nível de desenvolvimento da pessoa e têm impacto real no dia a dia.

Pode influenciar várias áreas da vida — desde a escola ao trabalho — mas também revelar formas únicas de pensar, criar e resolver problemas.

Não é um défice — é uma desregulação da atenção.

O que é (e o que não é)

Apesar do nome, a PHDA não é falta de atenção: é uma dificuldade em regular e direcionar a atenção.

Podem existir momentos de grande distração e outros de atenção intensa (hiperfoco), em que é difícil parar o que se está a fazer ou mudar de tarefa.

Estudos recentes* apontam para uma prevalência da PHDA de:

    • 7,6 % nas crianças

    • 5,6 % nos adolescentes

    • 3.1 % nos adultos

As percentagens variam conforme os critérios e metodologias usadas, mas mostram que a PHDA é frequente e relevante.

Impacto no dia a dia

Muitas pessoas com PHDA referem impactos positivos e negativos.

As dificuldades podem manifestar-se em várias áreas:

    • Contexto escolar e profissional;

    • Gestão financeira, doméstica e familiar;

    • Estilo de vida e hábitos de saúde.

Ao nível emocional e social, é comum:

    • Dificuldade na regulação emocional;

    • Baixa autoestima;

    • Impulsividade;

    • Desafios nas relações interpessoais.

Estes impactos não resultam apenas das características da PHDA, mas também da falta de compreensão, estratégias e apoio adequado ao longo da vida.

Principais características

A PHDA manifesta-se de forma diferente em cada pessoa, dividindo-se em dois domínios principais:

Desatenção

Dificuldade em regular a atenção, planear, organizar e gerir o tempo.

    • Começar várias tarefas sem as concluir;

    • Perder objetos;

    • Esquecer compromissos (ou depender excessivamente da agenda);

    • Chegar atrasado;

    • Adiar tarefas longas ou monótonas;

    • Ter dificuldade em planear e seguir instruções.

Hiperatividade / Impulsividade

Desafio em parar, esperar ou moderar ações e emoções. Pode haver agitação física ou mental e tendência a agir antes de refletir.

    • Falar muito;

    • Interromper;

    • Ser impaciente;

    • Tomar decisões por impulso;

    • Sentir necessidade constante de movimento;

    • Ficar tenso ao tentar controlar a agitação.

Nas crianças, a hiperatividade surge mais através do movimento e da fala. Nos adultos, tende a transformar-se em inquietação interna e dificuldade em relaxar.

Tipos de apresentação

A PHDA pode assumir diferentes formas, conforme o domínio mais afetado. Nem todas as pessoas têm dificuldades nos dois — em alguns casos, os desafios surgem apenas num deles. Estas apresentações podem mudar ao longo da vida:

    • Predominantemente Desatenta: dificuldades marcantes essencialmente na atenção.

    • Predominantemente Hiperativa-Impulsiva: desafios significativos essencialmente na hiperatividade e impulsividade.

    • Combinada: dificuldades relevantes nos dois domínios.

Para além dos critérios

Os critérios de diagnóstico não captam toda a experiência de quem vive com PHDA. Muitas pessoas relatam também:

    • Desregulação emocional;

    • Baixa autoestima;

    • Procrastinação;

    • Dificuldade em iniciar tarefas;

    • Troca frequente de interesses;

    • Perceção alterada do tempo;

    • Hiperfoco;

    • Diferenças sensoriais;

    • Alterações do sono;

    • Necessidade constante de estímulo;

    • Sensibilidade à rejeição.

Forças e potencialidades

Apesar dos desafios, muitas pessoas com PHDA reconhecem também características positivas, como:

    • Criatividade;

    • Curiosidade;

    • Espontaneidade;

    • Energia;

    • Empatia;

    • Sentido de humor;

    • Capacidade de reagir sob pressão;

    • Tendência para inovar e pensar fora da caixa.

A investigação das forças associadas à PHDA ainda é limitada, mas reforça a importância de uma visão equilibrada — reconhecendo tanto as dificuldades como as potencialidades.

Causas

A PHDA não tem uma causa única — tem origem multifatorial. Grande parte é explicada por fatores genéticos (70–80%), embora ainda não estejam identificados todos os genes envolvidos.

Fatores ambientais precoces podem também estar associados:

    • Complicações na gravidez e parto (ex.: pré-eclâmpsia, parto prematuro, baixo peso à nascença);

    • Exposição a toxinas (ex.: chumbo, pesticidas, fármacos como o valproato);

    • Défices nutricionais (ex.: vitamina D, ómega-3, ferritina);

    • Situações de adversidade ou stress (ex.: trauma, pobreza persistente).

A PHDA não é causada por falta de disciplina ou má educação, mas por um modo diferente de funcionamento do cérebro.

Uma diferença, não um erro.

A visão da Brainstorm

Na Brainstorm, entendemos a PHDA segundo o paradigma da neurodiversidade: as diferenças neurológicas fazem parte da variação natural da espécie humana.

A PHDA não é falta de esforço, preguiça ou má educação, mas um modo distinto de o cérebro processar o mundo.

Quando compreendida e valorizada, pode tornar-se uma fonte de criatividade, empatia e inovação. Quando não é reconhecida nem acomodada, pode gerar consequências sérias:

    • Maior risco de exclusão e estigma;

    • Abandono escolar e dificuldades laborais;

    • Subaproveitamento de competências;

    • Abuso de substâncias e comportamentos de risco;

    • Acidentes e custos económicos para a comunidade.

Conclusão

A PHDA também traz potencialidades e vantagens evolutivas — contextos onde o pensamento rápido, a criatividade e a energia são verdadeiras forças.

Com diagnóstico adequado, apoio e aceitação, é possível transformar:

    • o caos em inovação,

    • a hiperatividade em entusiasmo,

    • e a impulsividade em ação.

Compreender a PHDA é o primeiro passo para viver com ela — e não contra ela.

 

 

 

 

*Ayano, G., Tsegay, L., Gizachew, Y., Necho, M., Yohannes, K., Abraha, M., Demelash, S., Anbesaw, T., & Alati, R. (2023). Prevalence of attention deficit hyperactivity disorder in adults: Umbrella review of evidence generated across the globe. Psychiatry Research, 328(328), 115449. https://doi.org/10.1016/j.psychres.2023.115449

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Salari, N., Ghasemi, H., Abdoli, N., Rahmani, A., Shiri, M. H., Hashemian, A. H., Akbari, H., & Mohammadi, M. (2023). The global prevalence of ADHD in children and adolescents: a systematic review and meta-analysis. Italian Journal of Pediatrics, 49(1), 48. https://doi.org/10.1186/s13052-023-01456-1